Três coisas me distraem e me permitem repousar da minha tarefa, embora sejam singulares distrações: o meu Arthur Schopenhauer, a música de Schumann e passeios solitários. Ontem, o céu anunciava uma tempestade esplêndida. Subi a uma montanha próxima, chamada "Leusch", e encontrei, lá em cima, um homem que, ajudado por seu filho, se preparava para matar dois cabritinhos. A tormenta rebentou com tremenda violência de trovões, chuva, granizo, produzindo em mim uma exaltação incomparável e dando-me a conhecer que só chegamos a compreender justamente a Natureza quando nela nos refugiamos, evadidos dos nossos cuidados e das aflições. Naquele momento, que eram para mim o homem e a sua vontade inquieta? Que eram para mim o eterno Deves ou Não-Deves? Quão diferentes os raios, a tempestade, o granizo, forças livres, sem ética de qualquer ordem! Quão felizes e poderosos - vontade pura, não perturbada pela inteligência!
(Trecho de rascunho de carta de Friedrich Wilhelm Nietzsche ao Barão de Gersdorff, em Naumburg, 7 de Abril de 1866)
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