- Deus: sente-se meu querido…
O Diabo educadamente se compõe à mesa. Pede com gentileza para que venha apenas uma água sem gás. Deus faz sinal com a mão para vir também, uma dose dupla de cachaça. Está de „folga‟!
- Deus: velho amigo, as coisas não estão fáceis! Já não tenho suportado as burocracias do poder. Os humanos acabam por tomar todo meu tempo com suas imbecilidades. Tem hora que estou nas estradas, outras, nos hospitais, diversas vezes em bordéis, bares, estádios, até em „terreiro de macumba‟ tenho feito horas extras. Ah! Que vida!
- Diabo: é o preço do poder sábio mestre! Por que não renuncia antes que as coisas piorem?
- Deus: não, não, vou até o fim. Abdicar pega mal. Não vê os políticos no Brasil, defendem até a morte o poder. No mais (Deus irado), eu criei esse mundo, tudo é meu, aqui quem dá as cartas sou eu e ninguém mais! Eu sou dono desta merda toda! E como já disse aquele filho meu, „o guri Zé galo‟: „ vocês vão ter que me engolir!‟. Sinto muito por você caro Diabo.
Afinal, há séculos toda a culpa do Mal tem se recaído sobre ti. Peço-lhes encarecidamente que segure a „onda‟ por mais algum tempo. Sem você não sou nada.
- Diabo: faço isso pela nossa amizade. Lembra daquela vez com o seu servo Jó? Ah! Vi sua Maldade ao extremo, uma enfermidade aqui outra acolá… (ambos sorriam… Deus engasga).
De repente, uma garçonete linda e nua vem servir o jantar à mesa. É a preferida de Deus, feita com a beleza escultural de uma deusa. Porém, quem serve o Diabo é um sujeito que não é homem nem mulher. Primeiro gay da antiga Babilônia. A língua é o chicote da boca! Diz ele. Ambos se encaram. O Diabo olha sério.
- Deus: carne de porco amigo? (sorri)
- Diabo: não. Sou vegetariano. Mas, o que pretende fazer com o mundo que criaste? Tenho notado que tu estás demasiado abatido, estressado e, também, não tem conseguido impor respeito como outrora. Lembra daquela vez que pregaram seu filho na cruz? O momento é outro, porém, você tem que agir, concorda?
- Deus: sim, recordo-me daquele mal entendido. Meu J. C. era imaturo e sonhador. Não tive outra opção. Tenho pensado em estimular uma 3ª guerra mundial. O que acha?
- Diabo: irá morrer muita gente mestre. E como sempre a culpa será minha.
- Deus: não, desta vez eu acabo com tudo! E depois recomeço do zero.
- Diabo: doutor! Tem que resolver isso rápido. Sabes, já não sou o mesmo. Tenho tido problemas endócrinos, meu fígado é de alcoólatra, sou diabético, tenho impotência sexual e deixei de fumar um „baseadinho‟ há muito tempo. Pelo que sei sua saúde também não é das melhores. Estamos velhos e frágeis. Aliás, tu tem bebido muito meu caro, e desse jeito seu governo vai acabar sendo investigado pelo „senado‟. Pelo que sei não assinas „saynei‟!
E Deus pede mais uma dose. Um duplo „rabo de galo‟. Vinho, depois daquele primeiro „milagre‟ decidiu não beber mais.
Já o Diabo, começa a chorar e diz que há algum tempo não tem utilidade alguma: Deus, meu irmão! Talvez seja hora de aposentar-me. Os homens, seus filhos, não precisam mais de mim. Eles são mais Maldosos que eu! Entendo que você está sobrecarregado. Mas, não fui eu quem criou esse mundo… (lágrimas jorram)
Diabo: um suco de acerola sem açúcar e sem gelo, por favor! Preciso de vitamina C.
Nesse momento, Deus começa a dar vexame. Tenta arrancar as vestimentas como fazem seus filhos em festas. Grita, perde o controle e chama por Dionísio, o deus Baco. O Diabo como sempre, segura a onda‟ do melhor amigo. „Não o desampara e assume a bronca‟.
Logo, chega uma carroça e leva Deus completamente embriagado soletrando: “Dai bebida forte ao que estás prestes a perecer, e o vinho aos amargurados de espírito. Que beba, e esqueça-se da sua pobreza, e da sua miséria não se lembre mais” (Provérbio 31, § 6 e 7). O boteco fecha. O Diabo reflete: „se o dono do mundo não está dando conta, não serei eu que irei salvá-los. Heróis, geralmente acabam na cruz‟. Conheço essa história! Quanto a mim, vou a farmácia adquirir meu remédio de „pressão alta ‟e ficar de boa‟. Desta vez, nada de pregos.
Dinaldo Bessani é professor de Filosofia na E.E. Dr. Carlos Augusto Froelich, em Pindorama (DE Catanduva)
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