Professores defendem a iniciação de aulas de Filosofia para crianças a partir de 6 anos de idade
A Assembleia Legislativa sediou nesta segunda-feira, 21/9, audiência sobre a introdução da disciplina de Filosofia no ensino fundamental da rede estadual de ensino. O deputado Carlos Giannazi (PSOL), a quem coube a iniciativa de promover este debate, observou que a Filosofia já é disciplina obrigatória no ensino médio e defendeu a sua adoção também para os alunos do fundamental I e II " 6 aos 14 anos.
"A Filosofia ajuda a desenvolver o senso crítico; o aluno entende melhor o ser humano e a sociedade; escolas particulares já introduziram essa disciplina; queremos que o Estado de São Paulo se atualize", argumentou, fazendo menção ao Projeto de lei de sua autoria (194/2015) que trata desse assunto.
Por que ensinar filosofia para as novas gerações (?)
Marcos Antonio Lorieri, filósofo formado pela USP, atual professor titular do programa de pós-graduação em Educação na Universidade Nove de Julho, foi quem respondeu a esta questão: "a criança pensa; quando o ser humano inicia a linguagem articulada, adquire a capacidade de organizar as ideias que estão na sua cabeça de forma ordenada, racional e consciente". Ao atingir a idade de dois anos, alguns mais outros menos, segundo Lorieri, as crianças já são capazes de articular as ideias a partir da vivência. Começam seu desenvolvimento com perguntas. Querem saber o que é, o porquê de tudo e isso nos remete aos sentidos e às significações.
Em sua defesa sobre o ensino da Filosofia no ensino fundamental, Lorieri acentuou que "a classe dominante reserva para si os sentidos e significações e, assim, impõe à sociedade, através da mídia, suas ideias. Qual o único caminho para ir contra isso? Desenvolver a capacidade de análise crítica ao que está aí, através do aprendizado da Filosofia".
Ensino brasileiro adota tendência tecnicista
Esse mesmo argumento foi reiterado pelos demais palestrantes. Professora de Filosofia há onze anos em escolas particulares para crianças de 7 a 14 e 15 anos, a professora e mestre de Filosofia em Educação pela USP, Larissa Gandolfo destacou que alunos de escolas mais bem qualificadas estudam Filosofia, mas "esse processo emancipatório ainda não foi democratizado". Criticou a atual tendência tecnicista do ensino brasileiro, afirmando que, em contraponto a isso, "os professores sofrem porque têm de transformar Filosofia em algo útil e interessante para alunos que chegam ao ensino médio sem nunca ter ouvido falar dessa disciplina".
Bruno Cortinove, mestre em Filosofia pela Universidade Federal do ABC e professor dessa disciplina em escola particular, contou ter testemunhado "os bons frutos" desse ensino no nível fundamental. "Filosofia não precisa ser a mais importante, mas deve ser acessível a todos", reiterou, para "desenvolver os questionamentos humanos nos jovens".
Alex Nogueira, mestre em Filosofia e professor do Colégio Objetivo do ABC, alertou para três questões: aulas de Filosofia serem ministradas separadamente às de História; material didático diferente daquele cedido para os alunos do ensino médio; e a necessidade de formar cidadãos que possam refletir sobre problemas.
Aldo Santos, mestre em Filosofia e presidente da Associação dos Professores de Filosofia e Filósofos do Estado de São Paulo (Aproffesp), negou tratar-se de uma reivindicação corporativista e chamou de discriminação o fato de escolas da rede pública não adotarem essa disciplina.
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